”Nós não somos vistas como intelectuais. Somos muito questionadas”, a fala da escritora Carla Akotirene trouxe reflexões significativas para a mesa de debates que teve como tema ”A escrita de mulheres negras: ferramenta que mira a independência de um povo”. A atividade ocorreu na manhã deste sábado, no Café Teatro Sesc Centro, e fez parte a programação do Festival Literário e Cultural de Feira de Santana (Flifs).
A escritora baiana aproveitou o encontro com muitos leitores para falar sobre o seu processo criativo. ”Eu escrevo sobre a minha experiência vivida, escrevo em primeira pessoa. Esta é a maneira de eu me libertar e ajudar meu povo, a partir do momento que ele se conecta com minha escrita. É sobre também produzir outros caminhos em políticas públicas, em resistências militantes. A escrita é a forma da gente resistir no mundo”, pontuou.
O bate-papo também contou com a presença da escritora Carmem Faustino, de São Paulo, que é poeta, além de gestora sócio-cultural e ativista. Para ela a escrita de mulheres negras representa um encontro com a própria identidade. ”Quando a gente escreve a gente vai quebrando essas lentes coloniais que são empregadas na gente o tempo todo. Quando eu tô falando em primeira pessoa sobre a minha vida, sobre o lugar de onde eu venho e os enfrentamentos que eu encontro até hoje, é lembrar do suporte que a escrita me dá. Tudo o que eu angustiava dentro de mim, que não conseguia falar, externei através da possibilidade que a escrita me trouxe”, disse
A mesa teve mediação da docente da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), Andréia Beatriz, escritora e Militante da Organização Política Reaja ou Será Morta para o enfrentamento ao ódio racial. De acordo com a organização da Flifs, esta foi uma das atividades com maior número de público desta edição.
A professora da rede municipal e servidora da Uefs, Gleice Melo, participou da atividade com a filha Maria Paula e considerou muito positiva a experiência. “Eu enquanto mulher preta me senti chamada a estar aqui hoje pra ouvir mulheres que me representam. Foi uma oportunidade incrível pra me fortalecer enquanto mulher, enquanto mãe, enquanto trabalhadora da educação, enquanto intelectual. Um momento que nos toca e nos encoraja a defender e assumir a nossa escrita, a nossa autoria negra”, afirmou.
A Flifs segue até hoje(1), com contações de histórias, apresentações culturais e visitação a stands de diversas livrarias e editoras. A programação do evento será encerrada às 17h, com show de Lazzo Matumbi.