Com a elevação do número de casos de dengue e outras viroses no município de Feira de Santana, devido à sazonalidade, aumenta também a procura pelas unidades de saúde públicas pela população. Devido a essa situação, Unidades de Pronto Atendimento (Upas) e Policlínicas têm registrado um alto índice de superlotação e, consequentemente, a demora no atendimento gera uma série de reclamações.
Na manhã desta segunda-feira (29), a paciente Claudia Almeida do Nascimento demonstrou sua insatisfação com os serviços de saúde em Feira de Santana. Ela buscou atendimento na UPA que fica ao lado do Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA) e reclamou da demora.
"A situação é que a saúde está uma miséria. A gente já veio de um hospital e agora estamos aqui e há a demora de sermos atendidos. Eles dizem que não têm previsão, porque realmente está cheio", afirmou.
Outra paciente que buscou a Upa estadual, Claudineia da Silva levou a filha de 10 anos para tratar uma dor no ouvido e também reclamou da demora.
"Ela está com dor de ouvido, saindo pus, inflamado e eles dizem que não é emergência porque não está sentindo febre. Cheguei aqui por volta das 11h e eles dizem que não tem previsão de atendimento, que está superlotado. Os cinco leitos estão todos com internamento", lamentou.
A gerente operacional da Upa estadual, Emanuelle Cunha, reconheceu que a unidade vive um estado crônico de superlotação, sobretudo após o aumento dos índices das viroses e a dengue.
"A gente vive de maneira crônica o nível de superlotação da unidade. No momento, a nossa taxa de ocupação está em 160%, um número de internados muito maior que nossa capacidade estrutural, tanto para adultos quanto para crianças. A pediatria também, ultimamente, é um setor que vem superlotando com uma frequência muito maior. As dengues e as infecções gripais e gastrointestinais aumentam o número de atendimentos. Porém o que nós temos mesmo são muitos pacientes internados com perfil cardiológico e renal. Mas é importante destacar que essa sazonalidade que a gente vive da dengue, das infecções gripais, fazem aumentar a procura também", salientou a gerente da unidade.
Ela explicou que, em alguns casos, a média de permanência de pacientes na unidade é de cinco dias e alguns pacientes ficam períodos maiores que esse.
"Aqui a gente não restringe. Para todo paciente que chega, é feita a ficha e passa pelo acolhimento. O que existe é a demora para esses atendimentos de pacientes que não são considerados vermelhos, que são urgentes e vão entrar de maneira de imediata, mas os que são classificados por outra cor demoram um pouco mais para serem atendidos. Mas todos que são classificados em algum momento são chamados pelo médico. Por isso que existe essa lentidão no atendimento, e a recepção está cheia como se pode ver."
Segundo Emanuelle Cunha, à medida que alguns pacientes saem para a regulação ou têm alta, novos pacientes são atendidos, porém o volume de pessoas que chegam ao local todos os dias é muito alto.
"Por isso que eu falei que existe essa lentidão para pacientes que são classificados com outras cores, exceto os vermelhos, que são de urgência. Aqui é uma UPA porte 3, que tem ortopedista, clínica, cirurgião e pediatra, e atende muitos casos que têm uma complexidade maior, então aqueles que não têm uma complexidade no seu quadro, eles devem procurar os outros serviços, como policlínicas do bairro ou PSFs (Postos de Saúde) para que de fato sejam contemplados. Aqui a gente tem ortopedia e é um atendimento que também não para, funciona todos os dias da semana e isso também impacta no nosso número de pacientes atendidos e internados", esclareceu.
Na Upa do bairro Queimadinha, a procura pelos atendimentos também cresceu com o aumento das viroses. E de acordo com a diretora da unidade, Ivete Silveira Borges, a meta mensal de atendimentos é de 4.500 pacientes. No entanto, somente no mês de março foram 6.500 pessoas atendidas.
"Foram mais de 2 mil atendimentos a mais. E isso está com uma tendência crescente. Não chegou ainda o inverno e já estamos com esse enfrentamento. Então a questão das doenças, nós atendemos pacientes também mais críticos, não so dengue. Nossa sala vermelha em março atingiu 130% da capacidade", desabafou.
A capacidade dos leitos de internamento tem operado acima de 100%. Conforme Ivete Silveira, as dificuldades para conseguir regulação de pacientes para hospitais de referência impede novas admissões em um curto espaço de tempo.
"Temos 16 leitos, que é nossa capacidade instalada, e hoje estamos com um atendimento acima de 100%. Todos os pacientes que chegam passam pela classificação de risco, porém devido à superlotação interna a gente não consegue girar os leitos, até porque tem a situação também da regulação, que nós temos um tempo de permanência muito elevado por se tratar de uma Upa. O certo é o paciente ficar até 24 horas, mas já tivemos pacientes que ficaram até 30 dias aqui dentro e muitas vezes a gente faz todo o tratamento do paciente aqui dentro, sem conseguir a regulação, então a nossa capacidade instalada está sempre superior", avaliou a diretora.
Ela garantiu que todos os pacientes que buscam atendimento da Upa Queimadinha são atendidos, porém devido ao grande tempo de espera, muitos vão embora, após passarem pela triagem.
"Todos os pacientes são cadastrados, triados e têm que aguardar o atendimento médico. O que acontece é um alto volume de evasões, pois as pessoas acabam não aguardando o atendimento por causa da classificação de risco. E um outro detalhe é que temos um volume muito alto de pacientes classificados como azuis, que tem um tempo médio de 4 horas e considerando que temos um alto fluxo, às vezes esse tempo acaba aumentando um pouco, para que a gente possa escoar os pacientes que estão dentro da unidade e possa entrar mais gente, senão a gente não consegue", declarou.