Terça, 03 de Dezembro de 2024
Bahia Cotas raciais

Homem assume vaga de cotas raciais no TCE após declarar que se bronzeia com facilidade

De acordo com análise do fenótipo do candidato Bruno Gonçalves Cabral, foi verificado que o mesmo possui: pele branca, nariz alongado, boca com traços afilados e cabelos naturalmente não crespos.

30/10/2024 às 06h44
Por: Redação Feira Em Pauta Fonte: Correio
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Crédito: Divulgação
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Um candidato conseguiu tomar posse no Tribunal de Contas do Estado (TCE-BA) como homem negro, mesmo após a banca de heteroidentificação do concurso ter afirmado que ele é um homem branco. Bruno Gonçalves Cabral, 35 anos, afirma que é pardo e solicitou uma liminar para assumir a vaga, mas o pedido foi negado pelo Tribunal de Justiça. Cabral recorreu alegando ter tido um avô pardo, e apresentou um laudo médico que diz que ele tem a pele morena que bronzeia com facilidade, e conseguiu. 

A juíza Maria do Rosário Passos da Silva Calixto suspendeu as decisões da comissão de heteroidentificação e determinou o retorno provisório do candidato para a lista de aprovados cotistas negros, até que haja uma decisão de mérito pelo juiz de primeiro grau. A vaga é para Auditor Estadual de Controle Externo. Na decisão, a magistrada reproduziu a conclusão da banca examinadora do concurso.

“De acordo com análise do fenótipo do candidato Bruno Gonçalves Cabral, foi verificado que o mesmo possui: pele branca, nariz alongado, boca com traços afilados e cabelos naturalmente não crespos. Tais características o enquadram, no fenótipo de uma pessoa socialmente branca, não passível de sofrer discriminação por cor/raça ou etnia, diante da aparência que assim apresenta”, afirmam os examinadores. A banca de heretoindentificação conclui. “Dessa forma, rejeitamos a autodeclaração do candidato supracitado, uma vez que seu fenótipo não foi identificado, por esta comissão de heteroidentificação, integralmente ou em sua maioria, condizente às pessoas da população negra (pretos e pardos)”, diz o parecer.

O Correio* aponta que a juíza afirma que o texto dos examinadores é igual ao usado para dispensar outros candidatos no mesmo concurso, lembra que não compete ao judiciário substituir a banca examinadora, mas que cabe a análise da legalidade do ato. Ela afirma que Bruno disse ter tido um avô e uma tia pardos, que o candidato apresentou um laudo dermatológico que diz que ele tem a pele morena que bronzeia com facilidade e concedeu a liminar. Maria do Rosário afirma que a decisão é parcial, enquanto o mérito é julgado pelo primeiro juiz do caso.

Na ampla concorrência, Bruno ficou em 45º lugar e não conseguiria ser aprovado. Entre cotistas, ele ocupa a 8ª posição, sendo o penúltimo do ranking das vagas disponíveis para esse público. Procurado, Bruno Cabral afirmou que é uma pessoa parda, que a decisão da banca foi equivocada e que aguarda o julgamento. “Assumi na condição de pessoa parda, previsto na legislação. As justificativas da banca não se sustentam ao falar que tenho pele branca e lábios finos e rosados. Qualquer pessoa ao meu redor vê claramente uma pessoa parda. Por hora, o julgador concordou com as provas apresentadas, mas o processo ainda está em andamento. Além disso, outras pessoas com fenótipo próximo ao meu tiveram a autodeclaração aceita”, afirmou.

A reportagem do Correio* acrescenta que candidatos negros reclamaram dele ter tomado posse. Bruno prestou concurso também para Agente de Tributos Estaduais da Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia, em 2022, e para Técnico em Informações Geográficas e Estatísticas do IBGE, em 2016, onde havia vagas para pessoas negras, mas ele optou pela ampla concorrência. Ele disse que não usou as cotas nesses certames porque desconhecia o próprio direito. Bruno disse que a banca também recusou a autodeclaracão de um atual servidor do TCE, no ano anterior, em processo seletivo diferente, e que o órgão age de modo arbitrário.

“Esta mesma banca, identificou como negro pardo, indivíduos com características idênticas às minhas nesse mesmo processo do TCE: cor de pele, tipo de boca e tipo de cabelo”. E concluiu. “A banca não afirmou que sou branco, mas ‘socialmente branco’, construção ideológica da instituição, o que fere ainda mais minha história de vida”, disse.

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